Quando uma festa é boa, quem não quer ir embora já pergunta: ‘Onde vai ser o after?’. Com a comemoração ao Senhor do Bonfim não é diferente: a Segunda-Feira Gorda da Ribeira, que acontece logo no dia seguinte à Procissão dos Três Pedidos, traz intensa movimentação nos bares espalhados pela Avenida Beira Mar, a principal do bairro, e nas vias transversais.
Este provavelmente deve ser o pós-festa mais longevo da história recente, completando 135 anos, e já faz parte da programação de quem vem para curtir a Lavagem. É o caso da designer de sobrancelhas Karina da Anunciação, que leva a família para comer o famoso cozido à beira-mar.
“Já virou tradição. Se não venho, parece que a festa ficou incompleta. Amo cozido, e curtir um sambinha vendo essa praia linda, então, só alegria”, comentou.
Historiadores contam que após a festa propriamente dita, romeiros e outros participantes ficavam perambulando pelos bairros vizinhos, a fim de esticar as celebrações. Com isso, os barraqueiros que estavam instalados no percurso do cortejo corriam para desmontar suas estruturas e rumavam para a Ribeira. Sua estrutura já foi ainda maior do que é hoje, com direito a gente fantasiada nas ruas e trios elétricos tocando uma verdadeira mistura de ritmos, como samba, salsa e axé.
De acordo com a Associação de Barraqueiros de Festas Populares do Estado da Bahia (Abfest), a Segunda-Feira Gorda chegou a ter 150 barracas participantes. Atualmente, o que dá o tom à folia é mesmo o cozidão, servido a preços populares, e a música, que começa cedo e dura até o fim da noite.
Vale dizer que esta é uma festa realmente singular: embora não tenha nada de santa, tanto que pegou o ‘Gorda’ em referência ao Rei Momo, a Segunda-Feira também coincide com as comemorações a Nossa Senhora da Guia, santa que teria guiado Jesus desde a sua infância até o começo da sua vida pública. Em 1745, sua imagem foi trazida por um Capitão da Marinha ao lado da representação do Senhor do Bonfim até a Igreja da Penha. Nove anos depois,em 1754, os santos seriam levados em grande procissão até a Basílica na Colina Sagrada, que hoje sedia a tão querida Lavagem do Bonfim. Contudo, os registros das primeiras comemorações da Segunda-Feira Gorda datam de 1888.
Desfilaram ternos, bandas militares e até mesmo carros alegóricos, como um pré-Carnaval.
Ainda que a Segunda-Feira Gorda tenha mudado seus moldes, a farra se reveste de uma memória valiosa para quem participa dela, direta ou indiretamente.
“A galera desce em peso pra cá, chega cedo pra comer água e só vai embora às 23h, meia-noite. Dá pra fazer um dinheiro legal com meu isopor”, assinalou a barraqueira Zenaide Correia.
Já para quem mora nas ruas da Ribeira, parece que é, de fato, um pré-Carnaval.
“Olha, vou te dizer, mesmo com a movimentação de todo domingo, nada é parecido com a Segunda Gorda. O bairro fica todo assanhado, lembra até dia de Furdunço (folia com fanfarras e atrações culturais previsto para voltar 12 de fevereiro)”, brincou a dona de casa Joana Michel.
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