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O LEGADO MUSICAL DE BATATINHA

Atualizado: 30 de dez. de 2021


Gabriel Teixeira Penha tinha 10 anos quando aprendeu com o pai, Jorge, os acordes de Refazenda, de Gilberto Gil. Começou a tocar em um violão emprestado de um colega até ganhar o próprio. Foi tomando cada vez mais gosto pela música, mas ainda não tinha criado muita intimidade com o samba, estilo musical que consagrou seu avô, Oscar da Penha “Batatinha”, um dos maiores sambistas de que já se teve notícia na Bahia e no Brasil. Uma herança como essa não é do tipo que passa despercebida e, mais cedo ou mais tarde, chega “refazendo tudo”, como os versos da canção de Gil.


“Em 2007, eu tinha 13 anos e rolou um filme sobre meu avô, ‘Batatinha, poeta do samba’, de Marcelo Rabelo. Eu, meu tio e meu pai começamos a montar uma coisa mais musical, nos juntamos para fazer o filme. Foi uma fase bacana porque eu comecei a conhecer o pessoal do samba que conviveu com meu avô e me aproximei de pessoas como Guiga de Ogum, Claudete Macedo, vários contemporâneos dele”, relembra Gabriel, hoje com 23 anos.

A convivência musical iniciada com o filme gerou frutos: o grupo Batata Acústica, formado por Gabriel; seu pai, Jorge, cantor e bandolinista; e o tio, Antônio “Galo”, percussionista e também uma das vozes da banda, que fazia apresentações no bar Toalha da Saudade, fundado e administrado, até hoje, pelos filhos de Batatinha. A prole do sambista, todos frutos da relação com Marta (amor que virou samba), é numerosa: 10 filhos, sendo dois já falecidos. Dos netos, Gabriel é o que segue na música e encabeça os projetos relacionados à obra do avô.


“Depois do Batata Acústica, eu estava tocando com outro grupo e, durante essa fase, o bar voltou a ficar sem música. Aí surgiu a Sambagolá e a gente voltou a tocar junto, eu e meu pai. Depois ele se casou e foi morar na Alemanha e a gente seguiu dando continuidade por aqui”, explica, referindo-se a Sambagolá Orquestra Popular, grupo que tem na linha de frente o próprio Gabriel e a musicista e compositora suíça, Seraina Gratwohl.

O casal é responsável também por organizar e produzir a programação musical do antigo bar Toalha da Saudade, hoje rebatizado de Centro Cultural Batatinha, com o intuito de fomentar eventos e atividades ligados à cultura da cidade. A parte administrativa fica a cargo dos tios de Gabriel, Antônio Galo e Vavá, que também moram no espaço.

Fundado nos anos 80, o Toalha da Saudade sempre foi ponto de efervescência cultural da cidade de Salvador. A presença de Batatinha, assíduo frequentador do local, servia de atrativo para músicos, jornalistas e intelectuais da época.


Luiz Caldas compunha canções sentado na mesa do bar; João Nogueira e Edil Pacheco tiveram o famoso endereço na Ladeira dos Aflitos como inpiração para “Mel da Bahia”, como atestam os versos “No bar da saudade / Pra ver Batatinha / E seus filhos bonitos”. Hoje, Gabriel, os tios e Seraina lutam para manter o espaço em pleno funcionamento e com uma programação que faça jus ao potencial que o “Toalha” sempre teve para movimentar a cena musical da capital soteropolitana.


“Quando começamos com a proposta do Centro Cultural Batatinha, um cara chegou lá na reabertura e disse ‘Poxa, achei que ia chegar aqui e ver uma placa do Governo do Estado, de fomento à cultura’. Nós não ganhamos nenhum edital, mas sei que temos potencial para ganhar. O que faltou mesmo foi colocar essa coisa para andar, sem esperar por ninguém, só por pessoas que estejam ali para fazer acontecer”, destaca o músico.

Atraída pela música de Batatinha, Seraina se viu envolvida pela obra do sambista baiano, mergulhando fundo em suas composições.


“Quando conheci a obra dele, foi uma coisa muito impactante. Depois, fui convivendo com Gabriel e a família, e hoje eu vejo que as pessoas, individualmente, o valorizam muito. O tempo todo a gente se bate com pessoas que tem alguma coisa para contar sobre ele e sempre são coisas boas. Acho que Batatinha era uma pessoa muito carismática, muito especial mesmo e todo mundo lembra dele com muito entusiasmo”, ressalta a musicista.


Gabriel chegou a morar com o avô no bairro da Saúde e só tinha 3 anos quando ele faleceu, em 1997. As lembranças, diz ele, não são concretas, mas alguns recortes de memória permanecem.


“As únicas lembranças que eu tenho é que ele me levava para sair. Só nós dois. Também lembro que quando morávamos juntos, eu não alcançava a janela, que era um pouco alta, e ele me carregava e me colocava lá, para eu ficar olhando o que estava acontecendo na rua”, recorda.

Além de cantor e instrumentista, Gabriel também é compositor. Gilberto Gil, Milton Nascimento e outros artistas servem de influência para a música que produz, mas a melancolia, essa espécie de tristeza bonita, marca registrada das composições de Batatinha, também está lá.


“Minhas composições, muitas vezes, vão por linhas bem diferentes do meu avô porque eu também sofri outras influências. Mas a tristeza como ele retrata é uma coisa muito genial, a forma como ele consegue trazê-la para a composição. E isso me influencia bastante nos meus escritos”.

Para Seraina, que conhece bem a obra dos dois, a facilidade em passear pelas diferentes vertentes da música baiana também é uma herança de Batatinha no trabalho de Gabriel.


“Batatinha era sambista, mas quando você conhece mais a fundo a música dele, você vê que ele teve muita influência do blues, do repente, da capoeira… Gabriel também é assim, completamente sincrético. Até mais ainda, porque ele levou isso a uma estética mesmo de trabalho”, aponta.

Ainda que a convivência entre avô e neto tenha sido um tanto rápida, o legado musical segue vivo. Identidade herdada por quem, desde cedo, recebeu um empurrãozinho para subir um pouco mais alto do que a vista alcançava, passando a enxergar a vida do patamar da canção.



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