Conheça o Samba Junino, ritmo soteropolitano que embala os festejos juninos na Bahia
- Yasmin Azevedo
- há 2 dias
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Expressão cultural afro-baiana nascida em Salvador mistura tradição, dança e resistência; conheça mais desse ritmo típico do São João da Bahia
Manifestações populares como o Samba Junino são mais do que celebrações festivas — são formas de resistência, de memória viva e de afirmação identitária. Nascido nos quintais e terreiros de Salvador, esse samba de pegada acelerada e alma comunitária hoje ocupa com orgulho o lugar que lhe é de direito: o de Patrimônio Cultural de Salvador, por meio do Decreto Municipal nº 29.489/2018.

Com raízes afro-brasileiras e herdeiro direto do samba de caboclo, o Samba Junino despontou no final dos anos 1970 quando, após as rezas dos santos juninos, os tambores ecoavam pelos bairros como Engenho Velho de Brotas, Federação, Ogunjá e Liberdade. À época, o espaço dos terreiros já não comportava o povo que chegava, e o samba ganhou as ruas com seus “arrastões” animados e democráticos, atravessando comunidades com ritmo, fé e identidade.
A partir da década de 1980, a explosão de festivais contribuiu para a organização dos grupos, a criação de repertórios próprios e o fortalecimento da tradição. Concursos de rainha, ensaios, desfiles e apresentações passaram a integrar o calendário cultural da cidade. E, mesmo com o impacto da violência urbana e do apagamento midiático, o movimento resistiu, reconstruiu-se e seguiu vivo, pulsando em bairros periféricos e de maioria negra.

Mas a história do Samba Junino não se conta só pela música. Ela também vive na estética das camisas padronizadas, nas tabuinhas marcando o compasso, na dança das mulheres e dos corpos LGBTQI+ que desafiam normas e moldam novas narrativas de pertencimento. É uma expressão artística completa: musical, visual, performática e afetiva.
Em reconhecimento à importância desse patrimônio imaterial, a Fundação Gregório de Mattos elaborou, em diálogo com os próprios detentores da tradição, o Plano de Salvaguarda do Samba Junino. Entre as ações prioritárias estão oficinas de dança e instrumentos, inclusão dos grupos nas festas populares da cidade, produção de materiais audiovisuais e incentivo à indumentária tradicional. O plano também prevê ações para valorização dos mestres e mestras do samba, sua inserção em espaços de ensino e a promoção da memória coletiva dos grupos.
Além disso, o Dia Municipal do Samba Junino — comemorado em 17 de abril por força da Lei nº 9.516/2020 — marca oficialmente essa luta por reconhecimento e continuidade. E o “Festival Samba Junino”, realizado anualmente com apoio da FGM e parceiros, consolida o calendário e amplia a visibilidade dos grupos nas ruas e nos palcos da capital baiana.

Mais que uma festa, o Samba Junino é um grito ancestral que rompe os limites do tempo. Um som que atravessa gerações, recria tradições e reivindica o direito de existir com dignidade, no compasso do tambor e da coletividade.
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