Os retratos pendurados nas paredes da entrada, em sua grande maioria, não levam cores. Mas revelam um momento de glória na história do futebol baiano. O espaço tem um formato de um largo corredor, onde bandeiras se misturam a calendários, santos e adesivos com frases de incentivo. Mesas e cadeiras ocupadas. Algumas dessas estrategicamente colocadas na calçada, de frente para o Forte de São Pedro, observando o vai e vem do centro da cidade.
É no passeio de pedras portuguesas que está o Bar do Tirson, também conhecido como Bar do Bahia. Há 39 anos em atividade, o espaço pertence ao ex-jogador tricolor que fez história no clube entre os anos de 1968 a 1978.
Ideal para assistir a uma boa partida de futebol, o boteco surgiu quando a vida dos gramados deixaria de ser o centro das atenções da vida do jogador baiano. Já cansado de viagens e hotéis, o atleta precisava de algo que fincasse seus pés definitivamente no chão da capital.
“Na época, eu mal sabia o que era um bar. Nem beber eu bebia. Tinha esse espaço aqui e precisava fazer algo com ele. Na década de 80, já cheguei a colocar cerca de 40 mesas na calçada. Era uma loucura. Todo mundo vinha pra cá e depois descia para o Rio Vermelho, lugar onde a paquera rolava”, relembra animado.
Com uma vida ativa, o ex-jogador revela que o hábito de se manter longe das bebidas alcoólicas prevaleceu com o passar dos anos.
“Sou esquentado, tento manter a ordem na casa. Quando tem jogo, os ânimos se exaltam. Eu bato na mesa e peço que fiquem todos calmos, ninguém quer me ver nervoso. Não dá para misturar trabalho com bebida, uma situação assim ficaria difícil de controlar”, alega.
No intuito de movimentar a freguesia e somar à cena musical da época, Tirson não poupou contatos. Conselheiro do Olodum e amigo do vovô do Ilê, realizou a primeira lavagem do bar, em 1985, com a participação do Ilê Aiyê.
“Era uma loucura, as pessoas não conseguiam andar. Tinha ano que dava cinco, dez mil pessoas. Parecia carnaval. Chegou ao ponto de a prefeitura proibir, não dava para continuar”, assume.
Com uma simples estrutura montada pelo anfitrião, o bar continuaria com shows durante os finais de semana. Mesmo pequeno, o espaço foi palco para futuros nomes da música baiana, como Grupo de Pagode Melô do Samba, Beto Jamaica, Compadre Washington e Reinaldo do Terra Samba.
Embora assuma seu lado durão quando preciso, Tirson se define um cara boa praça. Aos 68 anos de idade, 36 deles dedicados ao futebol, o ex-ídolo da torcida tricolor sabe de sua importância no futebol do Esporte Clube Bahia. Com o passar dos anos, ele acredita que esse é ainda o motivo de ser reconhecido durante um passeio na Barra ou nas idas constantes à Feira de São Joaquim para abastecer o bar.
“Sou bem chegado em qualquer lugar. Tenho amigos que torcem Bahia, amigos que torcem Vitória. Vez ou outra alguém grita meu nome quando estou correndo na areia da praia. Tem uma palavra para isso. É carisma”.
Ao ser questionado sobre ter vivido fora de Salvador durante alguns anos, ao jogar no Atlético do Rio de Janeiro e no Coritiba, Tirson é rápido:
“Eu não largo a Bahia. Sou baiano, não saio daqui. Sair daqui só se for pro Campo Santo [cemitério]”, e gargalha com sua voz rouca e educada.
O ídolo, que já dividiu campo com Pelé e está entre os 125 maiores jogadores do clube, não perde a chance de fazer um golaço.
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