Dando vazão ao desejo de contar as histórias de outros artistas negros da Bahia, assim como ele, que é reconhecido em todo o Brasil, o bailarino e coreógrafo José Carlos Arandiba, mais conhecido como Zebrinha, vai lançar um documentário sobre a memória da dança negra no estado.
As gravações aconteceram no mês de março, em Salvador, e a expectativa é a de que o filme seja lançado em novembro deste ano. Conforme Zebrinha, o documentário é pautado pelas vivências, memórias e saberes das mestras e mestres, com entrevistas, performances e importantes registros guardados em imagens de arquivo.
"A nossa história está sendo perdida. precisamos contar a nossa história pela boca de negros e negras", afirmou ele, que conduz as entrevistas com artistas responsáveis por elevar a dança da Bahia ao reconhecimento nacional.
“Há muitas outras pessoas maravilhosas e que foram importantes para a história, mas que por limitação da duração do filme não puderam entrar no documentário”, explica o diretor.
Para ele, conhecer a história na voz de protagonistas é um trabalho de pesquisa "importante e fundamental" para a preservação da memória da dança negra. Além disso, segundo o coreógrafo, dar visibilidade ao protagonismo negro no Brasil é também aproximar toda a população de suas raízes.
"É entender heranças e criações fundamentais nas nossas práticas e que não encontramos explicações nos livros”, ressalta Zebrinha, que possui mais de quatro décadas dedicadas à dança.
Inspiração
Entre os entrevistados na obra estão nomes como Nadir Nóbrega, Clyde Morgan, Inaycira Falcão, Edeise Gomes, Edleuza Santos, Senzala e Luiz Bokanha.
Porém, o documentário também traz uma conversa de Zebrinha com uma dançarina que serviu de inspiração não apenas para ele seguir a carreira no segmento, mas também contribuir para a confecção do documentário: a soteropolitana Altair Amazonas e Silva.
Para ele, Amazonas, como é mais conhecida, é a diva e inspiradora da dança negra na Bahia, de quem todo mundo era fã na década de 1970. Ela era o destaque da companhia de dança folclórica Olodumaré, criada por Edvaldo Carneiro e Silva, o mestre de capoeira Camisa Rosa.
De acordo com o coreógrafo, os ensaios e apresentações do grupo aconteciam no Teatro Castro Alves, atraindo a atenção da cidade para a presença marcante daquelas pessoas negras no espaço de reconhecimento da arte da Bahia.
“Quando aquela tropa de 20, 25 negros e negras, altivos, belos, saía do Teatro Castro Alves pelo Centro de Salvador, para mim, que era adolescente na época, era a grande inspiração. Eu comecei a saber o quanto eu valia a partir dali, a me achar bonito vendo Amazonas, a mulher mais bonita que tinha nesta cidade, de verdade”, lembra Zebrinha.
“Quando aquele grupo aparecia na rua, você só não se submetia a isso se você fosse muito ruim com você mesmo. Mas se você quisesse uma mudança de raciocínio e comportamento era imediato”, pontua o dançarino.
Atualmente, ele compõe o júri técnico do quadro Dança dos Famosos, do Domingão com Huck (TV Globo), além de ser diretor artístico de dois importantes grupos da cultura baiana: o Bando de Teatro Olodum e o Balé Folclórico da Bahia.
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