Não é todo dia que se vê uma baleia. Mas, quem mora ou frequenta o litoral baiano tem tido esse privilégio com frequência desde o mês passado, quando se iniciou o período de reprodução das baleias-jubarte. Nesta quinta-feira (11), por volta das 9h, elas resolveram aparecer e conduzir, num doce balanço, as pessoas que estavam — ou passavam — na praia do Jardim de Alah, em Salvador.
Um dos sortudos foi o estudante João Gabriel Dantas, 25 anos, que caminhava no local com a cunhada.
“Todo mundo ali, na orla, parou para começar a olhar e admirar a natureza. Teve até uma moça que estava num Uber, e ela e o motorista pararam para tirar foto e filmar”, contou, entusiasmado, o estudante.
Não se sabe, ao certo, o número de animais da espécie que estavam no local: enquanto João Gabriel acredita que foram cinco, Luís Silva, 34 anos, dono de um quiosque naquela praia, arriscou que haviam oito. Ainda segundo ele, a aparição durante a manhã foi uma surpresa.
“Desde segunda-feira, [as baleias] estavam passando no fim da tarde, vindo da Barra e subindo para Itapuã. Os filhotes é que ficavam pulando mais. Muita gente parou. [As baleias] ficaram por um bom tempo próximo à costa, e a gente ficou com medo de elas encalharem”, detalhou o empreendedor.
Com origem da Antártida, onde se alimentam, as jubarte, todos os anos, buscam o litoral por causa das águas mais quentes e tranquilas, propícias para a reprodução e para o nascimento e amamentação dos filhotes.
“Aqui no Brasil os filhotes estão menos suscetíveis a predadores e são amamentados até conseguirem cobertura de gordura corporal suficiente, que é considerado um isolante térmico, e assim aguentar a volta para a Antártida”, explica a bióloga e pesquisadora Layla Diniz, da RedeMar, instituição que trabalha pela conservação da vida nos oceanos.
Na atual temporada, durante as duas primeiras semanas de monitoramento realizado pela RedeMar no litoral baiano, mais de 100 baleias-jubarte já foram avistadas. Até o fim deste período, a expectativa é que, das mais de 20 mil esperadas em todo o país, cerca de 6 mil escolham a Bahia como destino. No ano passado, a instituição deu início ao turismo de observação embarcado e pretende ampliar o programa — inclusive, com a capacitação de pescadores, para a realização de turismo de base comunitária.
Como observado por quem tem tido a oportunidade de ver as baleias, elas estão surgindo perto da costa marítima.
De acordo com o coordenador do Projeto Baleia Jubarte, Enrico Marcovaldi, isso se deve ao fato de a plataforma continental ser mais estreita em regiões como a do norte da Bahia e, principalmente, ao crescimento da população desses mamíferos.
Quando o projeto foi criado, em 1988, estima-se que haviam apenas 1,5 mil indivíduos; hoje, o número passa de 20 mil. “Em 2014, ela [a jubarte] deixou a lista oficial das espécies ameaçadas de extinção, para a nossa alegria”, comemora Enrico. Detalhe: a maioria é fêmea.
“Elas buscam águas mais rasas e mais tranquilas para poder amamentar e ensinar alguns comportamentos aos filhotes”, acrescenta Layla.
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