top of page
site-sma.png

FESTA DA BOA MORTE: EXPRESSÃO DE FÉ E CULTURA NO RECÔNCAVO BAIANO


Fotos: Tatiane Azeviche


"Cheguei a me emocionar durante a procissão. É uma tradição que não perde a força. Pretendo retornar sempre que puder", disse o paulista Mário Lampareli, 29 anos, que pela primeira vez participou dos festejos da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira. A tradicional celebração, que completa 203 anos e é considerada uma das maiores manifestações do sincretismo religioso baiano, movimentou a cidade histórica de Cachoeira, em seis dias de programação, com atividades religiosas, sociais e culturais.


Membro da irmandade há quarenta anos e há quatro presidindo o secular grupo, Joselita Sampaio Alves, ou simplesmente "Mãe Zelita" , ressaltou a importância de manter viva as tradições:


"Estamos sustentando a nossa cultura, porque não podemos perder a essência e esses ancestrais que nos deixaram. Precisamos conservar, para jamais deixar de ser feita, do jeito que é, em prol deles todos que fizeram parte, com a benção de Maria.


Visitantes - "Estou em Salvador a seis meses e fiquei sabendo da festa. Adorei os rituais, as procissões e a história de resistência dessas mulheres negras. Tive a oportunidade de conhecer também as mães de santo da Associação de Mulheres de Axé do Recôncavo, onde pude aprender muito", destacou a cineasta francesa Em Laurie Calvet, 35 anos, que aproveitou a estadia para saborear uma bela maniçoba, tradicional iguaria da região.


Igualmente maravilhado ficou o professor americano Stephen Selka, 53 anos, e que há mais de vinte anos participa das celebrações:


"Participei da festa da Boa Morte pela primeira vez em 2001. Desde então já retornei onze vezes. Como antropólogo admiro bastante a parte religiosa, a questão do sincretismo e as procissões. Cheguei a escrever um capítulo sobre a festa da Boa Morte em uma dissertação acadêmica", disse, antropólogo.


O designer carioca, Fabrício Carvalho, 35 anos, acabou atraído à cidade por sua noiva, estudante de Museologia, que tem se aprofundado em pesquisas sobre as indumentárias das baianas.


"Primeira vez que venho aqui. Nunca tinha visto algo com tamanha expressão cultural. É uma experiência real, algo que brota da população, muito forte. Adorei essa singularidade das baianas, que é algo único".


Promoção - Uma equipe da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) marcou presença em Cachoeira. Salvador e Santo Amaro também serão alvos de visitas do grupo, que prepara um edição especial da série documental "Turismo Transforma" tendo como pauta o turismo étnico-afro baiano.


A coordenadora de afroturismo, diversidade e povos indígenas da Embratur, Tânia Neres, apontou o recôncavo baiano como uma região de grande potencial para o segmento.


"Viemos para a Bahia para filmar o Recôncavo e Salvador. Fomos à Santo Amaro, onde falamos com o pessoal do Bembé do Mercado e do Nego Fugido, seguimos para Cachoeira onde conhecemos, além da festa da Boa Morte, o quilombo Kaonge. Depois seguimos para Salvador onde vamos encontrar a capoeira, a beleza da mulher negra e também falar sobre religiosidade, cultura e gastronomia", explicou Neres.


"Existe um grande nicho de mercado de norte americanos, alemães e franceses que vem para a Bahia pensando na cultura, não somente pelo atrativo de sol e praia. Eles chegam buscando exatamente essa questão da cultura ancestral. Existem africanos que chegam à Bahia e vêem coisas que os avós contavam e que lá não existe mais. Existe uma conexão Bahia e África muito forte e é nisso que a gente tem trabalhado", completou Neres.

Proprietária de agência de turismo "Afroturs", a empresaria Nilzete dos Santos destacou a grande procura pelo destino:


"A Bahia não é somente sol e praia, mas também é cultura. Aqui os turistas podem vivenciar uma experiência diferente, real. Esse ano vim com um grupo de pessoas do Brasil inteiro, África e Estados Unidos. Fechei uma pousada de dez quartos. A cada não passa a procura cresce mais".

Raízes - Para aqueles que chegam em Cachoeira e resolvem dar uma esticada para além da programação da Boa Morte uma das opções é imergir numa experiência única: o quilombo do Kaonge. O local que existe desde o século XVII e atualmente conta com uma sofisticada estrutura para visitantes (com hospedagem dentro do próprio quilombo) recebe anualmente cerca de 20 mil turistas, oriundos do Brasil e do exterior. Destaque para a Festa da Ostra, a fritura do azeite de dendê, as benzedeiras e as palestras, consideradas verdadeiras "aulas abertas".



"Aqui, além do turismo étnico e religioso, trabalhamos o turismo comunitário. É algo tradicional, cultural e pautado na transversalidade, sempre respeitando aquilo de mais importante que temos que é a nossa ancestralidade. No Kaonge temos trabalhamos também a produção associada ao turismo, que são os saberes e fazeres da comunidade", explica o quilombola e ativista, Ananias Viana.

Comments


bottom of page